A frase que abre o artigo desta semana é da auxiliar de arbitragem Marcielly Netto, agredida por um treinador em jogo válido pelo Campeonato Capixaba. O troglodita, que deu uma cabeçada em Marcielly, acabou demitido da Desportiva Ferroviária. Episódio lamentável e, infelizmente, ainda uma dura realidade em todas as regiões do Brasil.
Diariamente, as mulheres sofrem todo tipo de violência, somente pela condição de serem mulheres e viverem numa sociedade machista e misógina. Violência física, psicológica, institucional. Assédio sexual e moral, importunação sexual, estupro, feminicídio. Como deputada, faço das palavras de Marcielly as palavras de todas nós, maioria da população. Nós, mulheres, não podemos nos calar.
Em março, o Fórum Brasileiro de Segurança Pública antecipou dados coletados para o Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2022 relativos à violência letal e sexual de meninas e mulheres no Brasil. Os dados indicam um leve recuo nos registros de feminicídio em 2021, ao mesmo tempo que apontam o aumento dos registros de estupro e estupro de vulnerável no mesmo ano.
Os dados preliminares de violência letal contabilizam 1.319 mulheres vítimas de feminicídio no último ano, queda de 2,4% no número de vítimas; e 56.098 estupros (incluindo vulneráveis), apenas do gênero feminino, aumento de 3,7% em relação ao ano anterior.
Os números de registros de crimes contra meninas e mulheres apresentados dão relevo ao quadro de violência vivenciado por elas durante a pandemia. Apenas entre março de 2020, mês que marca a chegada da Covid-19 no país, e dezembro de 2021, último mês com dados disponíveis, foram 2.451 feminicídios e 100.398 casos de estupro e estupro de vulnerável de vítimas do gênero feminino.
A cabeçada em Marcielly é um símbolo de que a violência é o contraponto da autonomia e do empoderamento feminino, a agressão é a cara da barbárie, do atraso civilizatório. É como se fosse um recado de que a mulher não pode ocupar os diferentes espaços profissionais do mercado de trabalho – como um campo de futebol -, o serviço público, os postos de comando na iniciativa privada, a carreira jurídica, os parlamentos, o direito a ter vez e voz na política.
É preciso, portanto, ter coragem para enfrentar as adversidades que estão postas, fruto de séculos de opressão. Reafirmo que estamos aqui, firmes e vigilantes na Comissão da Mulher da Assembleia Legislativa do Amazonas para avançarmos juntos nas políticas públicas que garantam direitos e combatam todas as formas de violência contra as mulheres. Jamais irão nos calar.
Alessandra Campêlo
Deputada Estadual (PSC)
Presidente da Comissão da Mulher, da Família e do Idoso da Assembleia Legislativa do Amazonas